opinião

Fé tem mais a ver com o verbo saber do que com o verbo acreditar

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Desde que me foi oportunizado este espaço quinzenal, tenho tentado trazer temas e assuntos que, independente de ser ou não espírita, instigue em quem os lê o exercício do ato de pensar, refletir e raciocinar sobre alguns temas considerados por muitas religiões como sagrados e intocáveis e que, em geral, foram repassados quase que de forma imutável através das gerações. E fé é um deles. E é sobre essa palavrinha monossilábica chamada fé que vou discorrer no meu artigo de hoje. 

Tenho consciência de que, em termos de assuntos religiosos, não é muito comum as pessoas pararem para pensar em que bases se assenta a sua fé, muitas delas, inclusive, alicerçadas apenas em crenças. E, para início de conversa, vou fazer para você duas perguntas muito básicas, mesmo tendo consciência de que nunca vou saber as respostas. Mas o importante não é saber as respostas, mas sim fazer você pensar sobre o assunto. E a primeira delas, bem curtinha, é a seguinte: você tem fé? E a segunda: sua fé é inabalável ou de vez em quando, conforme a dificuldade, ela balança um pouco? 

Faço esse questionamento por que penso que existam dois tipos de fé: a recebida e a raciocinada. A primeira, a fé recebida, chega até nós em um "pacote fechado" que normalmente vai passando de geração em geração, sem que nenhuma preocupação, nenhum exame, nenhuma análise, nenhuma dúvida seja questionada a respeito dela. Já, a segunda, a fé raciocinada, se alicerça na razão, tornando menos difícil conviver com os acontecimentos inesperados e indesejados da vida na medida em que Deus deixa de ser aquele Deus das tradições judaico-cristão, em que prejudicava uns e beneficiava e protegia outros, para tornar-se um Deus incomensuravelmente justo com todos, indiferentemente de qualquer característica ou discriminação imposta por nós, alunos aprendizes engatinhando os primeiros passos na escala evolutiva do espírito imortal.

Os portadores desta última, a fé raciocinada, têm mais facilidades em aceitar as dificuldades da vida, não como castigos do Criador, mas como oportunidades de aprendizado e crescimento, pois que, ao contrário da fé recebida que nos chega pronta, a raciocinada nos incentiva, diferentemente da primeira, a necessidade de compreender antes de crer. 

Por isso, para se ter fé sem fraquejar, absolutamente, em nenhum momento, tal qual disse Kardec, "Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade", não basta somente crer. É preciso compreender. E, para compreender, é necessário lançar mão daquilo que mais diferencia os animais irracionais do animal racional, o homem, que é a capacidade de raciocinar. Mas, poderão alguns perguntar, por qual razão é fundamental compreender antes de crer, se é mais fácil crer sem ter que se aprofundar nas razões pelas quais se crê? E a resposta, de tão simples chega ser singela, pois que é através da análise racional que temos mais chance de separar o razoável do absurdo nas tantas crenças que nos chegaram desde a nossa infância e que, até hoje, já adultos, permanecem aceitas, intocáveis e sem nenhum questionamento. 

Quase todas as religiões ao longo dos séculos, preocupadas em não perder adeptos, não se preocuparam em nenhum momento em buscar novas explicações para responder certas perguntas que hoje pululam inquietantes na mente das pessoas do século 21, pois que, não exigindo provas, a fé imposta deixa no espírito curioso do homem contemporâneo algo de vago dando origem ao nascimento da dúvida. E, exatamente por essa razão, qual seja, na busca de respostas para questões ainda ocultas sob o manto da fé recebida, que mais e mais pessoas oriundas de outras correntes religiosas cristãs procuram mais e mais as casas espíritas, e lá acabam encontrando não a fé que move montanhas, mas a fé que as explica o melhor caminho para escalá-las. 

Mas, tudo tem o seu tempo, e à medida que vamos crescendo como espírito ao longo das encarnações, vamos sentindo, também, a necessidade de mais cristalinidade naquilo que se nos é posto como verdade, inclusive exigindo uma fé mais explicada, mais lógica e mais racional, exatamente como disse Alexandre Caldini Neto no seu livro A Vida na Visão Espírita: "Fé tem mais a ver com o verbo saber do que com o verbo acreditar".

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